sábado, 4 de abril de 2009

Matéria -- fonte:(revista veja)


Onde Darwin é só mais uma teoria......


Nas escolas evangélicas, os alunos aprendem
que o evolucionismo existe, mas que a razão
está com a Bíblia.


Carolina Romanin

As escolas brasileiras ligadas a instituições religiosas sempre ensinaram o criacionismo. Seja nas aulas de religião, seja nos cultos, os alunos aprendem que Deus criou o mundo e todos os seres que o habitam. A triste novidade é que, na maioria das escolas mantidas por confissões evangélicas, o criacionismo passou a serensinado também nas aulas de ciências e de biologia, dividindo território com o evolucionismo de Charles Darwin. No fim do ano passado, o Colégio Presbiteriano Mackenzie, de São Paulo, trocou os livros convencionais de ciências do ensino fundamental I por apostilas traduzidas da Associação Internacional das Escolas Cristãs nos Estados Unidos. Com o novo material didático, até a 4ª série os alunos da instituição aprendem apenas a versão criacionista do mundo e da vida. Da 5ª série em diante, Darwin entra em cena. O evolucionismo passa a fazer parte das aulas de biologia, mas informa-se aos alunos que, entre as duas teorias, a escola prefere aquela amparada na Bíblia. "Não viramos criacionistas do dia para a noite. Nossa escola tem 138 anos, e durante todo esse tempo fomos criacionistas", diz a professora Débora Muniz, diretora do Colégio Presbiteriano Mackenzie.

Os adventistas, que mantêm a maior rede de escolas evangélicas do país, com 130000 alunos, optaram por outro caminho para ensinar o criacionismo em sala de aula. Há cinco anos, empreenderam uma total reformulação nos livros didáticos de ciências produzidos por uma das 56 editoras mantidas pela igreja. Agora, os livros contrapõem a teoria bíblica à ciência em diversos capítulos, deixando claro que consideram que a segunda nem sempre é verdadeira. No capítulo das origens do universo e da vida, Darwin é impiedosamente surrado. Diz o texto a certa altura, tropeçando no português: "Muitos ensinam a evolução como se ela fosse um fato cientificamente comprovado. Isso não é verdade e nem honesto, já que não se podem provar cientificamente as origens da vida". Os criacionistas sustentam suas posições antidarwinistas alegando que o criacionismo não se mantém apenas pela fé, mas também pela comprovação científica. Diz o professor Nahor Neves de Souza Júnior, do Centro Universitário Adventista de São Paulo: "As descrições literais e históricas da Bíblia, incluindo o livro do Gênesis, estão sendo progressivamente confirmadas pelas mais recentes descobertas arqueológicas no Oriente Médio".
As escolas evangélicas batistas veem com desconfiança o material didático produzido especialmente para introduzir o criacionismo nas aulas de ciências – tanto o importado quanto o preparado por autores brasileiros. Os batistas preferem usar os livros didáticos convencionais, utilizados também nas escolas laicas, e introduzir o criacionismo por meio da Bíblia e de livros de apoio sobre temas religiosos. O Ministério da Educação não apoia o ensino do criacionismo nas aulas de ciências, mas não pode proibi-lo. A única exigência do órgão é que os livros didáticos, mesmo defendendo a teoria bíblica da criação, apresentem simultaneamente a versão evolucionista consagrada pela ciência. "Não aprovamos livro didático que trate do criacionismo apenas. Temos uma posição muito clara, a de que o criacionismo é para ser lecionado e discutido na aula de religião", diz Maria do Pilar Lacerda, secretária de Educação Básica do Ministério da Educação. Essa conduta é adotada pelas escolas católicas, que evidentemente sustentam os dogmas bíblicos, mas separam a religião da ciência. "Sabemos que o criacionismo é uma teoria de fé e que o evolucionismo é ciência. Não podemos contrastá-los em sala de aula", diz o paranaense Dilnei Lorenzi, secretário executivo da Associação Nacional de Educação Católica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário